terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pesquisadora cataloga museus e galerias de Belém

por Flávio Meireles
foto Alexandre Moraes

Entre as descobertas, está o Museu de Medicina
Paraense, com o maior acervo do Brasil
Um esforço árduo em busca dos polos artísticos de Belém. É, assim, como uma contribuição para o turismo paraense, que se pode caracterizar o Guia de Museus e Galerias de Arte de Belém, produzido pela pesquisadora e bibliotecária Cristina Alencar. O panorama museológico apresenta 29 museus e 15 galerias de arte existentes na cidade.
Lançado em junho de 2010, o livro foi o produto final do curso de especialização que a pesquisadora realizou, em 2005, pela Faculdade de Biblioteconomia da Universidade Federal do Pará. Sua monografia ficou restrita aos museus da capital, já que, por falta de tempo, não foi possível mapear as galerias de arte. Na época, Cristina Alencar catalogou 22 museus na cidade, ou seja, sete a menos do que consta no Guia.
Ao ser perguntada sobre o motivo pelo qual decidiu realizar este projeto, a pesquisadora não demorou a responder: "simplesmente, porque não existia! Belém não tinha nenhum trabalho dessa natureza". Como todo produto de especialização precisa partir de uma problemática, a inquietação inicial da pesquisadora foi com relação às necessidades turísticas, pois não havia algo que pudesse nortear as visitas aos museus existentes. Contudo, o Projeto deveria estar relacionado com a biblioteconomia, já que seus estudos convergiam para esta área. "Em uma biblioteca, um guia é uma obra de referência. Esse foi o vínculo que encontrei", explica Cristina Alencar.
O livro foi pensado de modo que atendesse não somente aos museus e às galerias, mas também às bibliotecas, às escolas ou ao público interessado em arte. Foram dois mil exemplares produzidos com o patrocínio do Banco da Amazônia.  "Cerca de 1.200 não foram comercializados. Doei 700 às escolas públicas municipais e estaduais de Belém", afirma Cristina Alencar.

Pesquisa de campo levou a lugares pouco divulgados

De acordo com a pesquisadora, o mapeamento não foi fácil. Nem todos os espaços catalogados eram conhecidos, por isso havia a necessidade de fazer uma visita a campo, conversar com as pessoas, perguntar se tinham conhecimento de algum museu ou galeria pela cidade. O último museu que entrou no Guia foi o da Igreja Assembleia de Deus. A pesquisadora obteve a informação ao ler uma monografia de graduação, indicada por uma professora do curso de Biblioteconomia. "O meu maior receio era fechar o livro sem ter todos esses espaços identificados", diz Cristina Alencar.
A pesquisadora afirma que, para confeccionar o Guia, teve que fazer de tudo um pouco, "fui responsável pela pesquisa, captação de recursos e organização do lançamento". Por essa razão, Cristina Alencar pondera como é difícil conciliar a vida de pesquisadora com a vida pessoal, "é difícil ter que estudar várias horas, acordar às 4 horas da manhã, trabalhar nas férias e ainda ter uma família para cuidar", fazendo a ressalva de que "todo o esforço é gratificante".
Segundo Cristina Alencar, o Guia deu mais trabalho, pois não ficou limitado em mencionar o nome do lugar, seu horário de funcionamento e se tem ou não entrada gratuita. "Este Guia é inovador, pois além de todas as informações básicas, traz o histórico de cada um desses espaços e é ilustrado com fotografias", explica a bibliotecária.
A precariedade de alguns espaços foi percebida pela pesquisadora. Era comum constatar a falta de recursos ou a má conservação dos museus. O inusitado, às vezes, era ver que o local tinha uma boa estrutura, mas não havia esforços para divulgá-lo.
Mas nem tudo é dificuldade entre os museus e as galerias da capital. O Museu de Medicina Paraense, por exemplo, tem o maior acervo do Brasil e isso só se tornou possível graças ao empenho das pessoas que conservaram materiais antigos que, provavelmente, iriam para o ferro velho.

Obra também contempla municípios do interior

Durante as visitas, Cristina Alencar observou que a problemática não está somente na estrutura física. Ao percorrer museus e galerias, é possível constatar que não há museólogos trabalhando nestes locais. "Nos espaços visitados, encontrei apenas uma pessoa com Graduação em Museologia", declara a pesquisadora.
Apesar de ter ficado restrito à capital paraense, o Guia tem um espaço reservado para os museus dos municípios no interior do Estado. Ao todo, foram nove cidades identificadas por Lúcia das Graças Silva, pesquisadora do Museu Emílio Goeldi. Espaços de exposição em Cachoeira do Arari, Marabá, São Geraldo do Araguaia, Óbidos, Santarém, Cametá, Vigia, Bragança e Itaituba também constam no Livro.
Os primeiros resultados deste trabalho pioneiro já começaram a aparecer. Em novembro do ano passado, Cristina Alencar recebeu a Medalha Condecorativa de Mérito Cultural, oferecida, anualmente, pela Câmara Municipal de Belém. Embora a Medalha tenha vindo por causa de um conjunto de trabalhos realizados, entre eles, a biblioteca digital sobre a médica Bettina Ferro, a pesquisadora acredita ter sido o Guia de Museus e Galerias de Arte de Belém o trabalho determinante para a premiação. Para ela, o "ineditismo contou muito para o reconhecimento".
Além de mapear o circuito museológico de Belém, Cristina Alencar tenta, com essa publicação, desmistificar a ideia de que museu é local de elite. A maioria dos museus indicados tem entrada gratuita e, quando é cobrado ingresso, o preço não é superior a R$ 4,00.
Para atualizar as informações do Guia, Cristina Alencar planeja criar um blog e indicar outros espaços que vêm surgindo na cidade, como a Galeria de Arte do Tribunal Regional Eleitoral, inaugurada recentemente.
Serviço: Às terças-feiras, todos os dez museus pertencentes ao Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIM/Secult), administrado pelo governo do Estado, possuem entrada gratuita. Entre eles, estão o Museu de Arte Sacra, o Museu do Círio, o Museu do Forte do Presépio e o da Casa das Onze Janelas.

Graduação em Museologia na UFPA

Até pouco tempo, a Região Norte contava com 122 museus e apenas 28 museólogos em atuação. Cerca de 80% dos profissionais que atuam nestes estabelecimentos não têm formação específica na área. Para responder a essa demanda, a UFPA criou, em 2009, o primeiro curso de Graduação em Museologia da região. Anualmente, serão ofertadas 30 vagas com o objetivo de formar profissionais que atuem na conservação e comunicação do patrimônio cultural e natural, além de fazer catalogação e restauração de acervos, entre outras habilidades.


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